Uma pérola entre as vinhas e a memória 

Igreja Matriz de Bucelas: o sagrado e o maravilhoso 

No coração da vila de Bucelas, rodeada por colinas e vinhedos, ergue-se a imponente Igreja Matriz, dedicada a Nossa Senhora da Purificação, pintada de branco, com detalhes em pedra calcária e uma imponente torre sineira de dois andares.

A tradição local atribui a sua fundação à lenda da aparição, em 1522, de uma imagem de Nossa Senhora da Purificação no local onde a igreja viria a ser construída em 1566, conforme inscrição presente no imóvel.

Este templo é um verdadeiro compêndio de estilos arquitetónicos e artísticos, com influências góticas, renascentistas, maneiristas e barrocas, surpreendendo pela sua harmonia e riqueza decorativa.

Destaca-se a sua localização estratégica, no alto de um pequeno outeiro — uma característica típica das igrejas-fortaleza — com paredes altas, poucas aberturas e uma cabeceira cilíndrica quase cega. O edifício principal apresenta uma planta retangular com três naves separadas por colunas toscanas em pedra, onde a luz entra suavemente pelas janelas laterais, conferindo um ambiente sereno e contemplativo.

No interior, o visitante é recebido por um ambiente rico em detalhes: os tetos em abóbada de berço estão decorados com florões e anjos, os arcos e colunas revelam trabalho em estuque delicado e o coro-alto, em pedra rosada, guarda vistas únicas sobre o templo.

A decoração da igreja é predominantemente maneirista, destacando-se o altar-mor em pedra e os azulejos verdes e brancos do tipo enxaquetado. A talha dourada, de estilo barroco nacional, enriquece os altares colaterais e o retábulo da capela-mor, onde as figuras de sereias e as esculturas dos Evangelistas contrastam com as colunas torsas decoradas com vides e folhas de acanto.

A Capela-mor é um dos pontos altos da visita: o pavimento em lajes de pedra, os azulejos polícromos com figuras mitológicas e as pinturas alusivas à Purificação de Nossa Senhora compõem um cenário verdadeiramente envolvente. Há também diversas telas antigas, esculturas religiosas e inscrições datadas dos séculos XVI a XIX que nos contam, em pedra, parte da longa história.

A torre sineira, com os seus dois sinos e um relógio em azulejo azul e branco, é visível de vários pontos da vila. A sacristia, com a sua abóbada em cruzaria de ogivas, guarda um pequeno oratório e inscrições que remontam aos séculos XVI e XVII, assim como vestígios de uma antiga capela.

A riqueza artística prolonga-se pelas naves laterais, onde encontramos fontes de água benta em pedra, confessionários com molduras trabalhadas e até um púlpito de madeira com escada em espiral de pedra. Em vários pontos da igreja, surgem pinturas murais do século XVIII com florões, medalhões e pequenos anjos, muitas delas de autoria desconhecida.

Apresenta ainda um grupo escultórico, do séc. XV, representando a Santíssima Trindade.

Após ter sofrido alguns danos no terramoto de 1969, foi alvo de obras de consolidação nas coberturas, torre sineira, azulejos, talha do altar-mor e estrutura do trono.